A Teoria do Superestímulo e Cansaço Mental
- comunidadeacademic
- 30 de mai. de 2020
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A Teoria do Superestímulo e Cansaço Mental
Você já parou para pensar o porquê de uma mariposa sempre ir atrás de uma luz? Melhor ainda, já se perguntou porque ela continua indo em direção a esta luz repetidas vezes? Por muito tempo, acreditou-se que era simplesmente porque elas não eram dotadas de inteligência – eram burras. As mariposas se guiavam pela luz da lua até que um dia, um primata ansioso decidiu acender milhares de luzes por todo o mundo, ou seja, está no instinto delas seguir a luz, mas mesmo assim, do ponto de vista da sobrevivência, não faz sentido nenhum ela gastar tanta energia em uma única luz artificial; é aí onde o biólogo chamado Niko Tinbergen (1907-1988) começou a observar que há algo de curioso nesse comportamento da mariposa. Então, ele passa a estudar o papel de estímulos artificiais em animais e consegue resultados interessantes: entre filhotes reais e fantoches, passarinhos preferem alimentar os fantoches com bicos mais largos; entre uma ameaça real e uma ameaça artificial mais colorida, o peixe ataca a artificial, é como se os animais, diante de um estímulo artificial ficassem hipnotizados, pois seus cérebros não evoluíram o suficiente para lidar com isso. Tinbergen então chamou este fenômeno de estímulo sobrenaturais ou superestímulos.
Diante disso, você já parou pra pensar que apesar de passarmos tanto tempo dos nossos dias em frente a uma tela de computador, celular, TV, raramente sonhamos com isso? Acontece que é muito fácil esquecer que dentro do processo evolutivo, nós humanos também estamos incluídos, isto é, somos animais. Em psicologia, aprendemos o conceito de filogênese – características que advém da espécie, genéticas – e partindo disso, em Análise do Comportamento, a primeira fase do estudo se dá pela constatação dos reflexos. Já se perguntou por que despertamos ao jogar água no rosto? (estímulo molhado – reflexo de mergulho) Ou por que nos encantamos tanto com criaturas com olhos grandes e fofas? (estímulo “fofo” – reflexo de proteção) Estes reflexos estão aqui para nos lembrarmos de nossa herança como espécie, de informações que estão gravadas em nosso DNA, mas assim como os outros insetos e animais, esses reflexos não evoluíram junto aos superestímulos, pois na natureza, é muito difícil encontrá-los.
Retornando à mariposa, ela é tão escrava da luz artificial, quanto nós somos da dopamina e no mundo moderno, somos bombardeados com cargas enormes de dopamina que na natureza, nossos ancestrais não encontravam. Por isso, é tão fácil passar horas em redes sociais, elas foram projetadas para serem descargas ininterruptas de dopamina uma vez que personalizadas com nossos interesses, o algoritmo encontra formas de apresentar cada vez mais propagandas superestimulando nossos cérebros. Outros fatores são: as “fast foods” – quantidades absurdas de sal e açúcar que raramente eram encontradas pelos nossos ancestrais na natureza; a pornografia, bebidas e drogas que ao passar dos anos se tornam cada vez mais abundantes. Por exemplo, compare a clareza, intensidade e variedade de uma televisão hoje frente as de algumas gerações atrás; compare a quantidade e disponibilidade da pornografia hoje, frente a algumas gerações atrás. Tudo isso gera um impacto em nossos cérebros que ao serem superestimulados, o fenômeno da anestesia mental pode surgir - de tanto sentir, não sentimos mais nada - e assim, a exaustão mental e psicológica se instaura.
O local que mais nos deparamos com impactos dos superestímulos são as redes sociais. A partir de outro conceito da Psicologia em Análise do Comportamento chamado reforço positivo: likes e reações funcionam como reforço positivo para pessoas – é como se no experimento do rato Sniffy orquestrado por Skinner, psicólogo behaviorista (1904-1990), ao invés de reforçar o ratinho com comida todas as vezes que ele pressiona a barra, o reforçássemos com likes todas as vezes que ele dissesse algo. Assim, um ignorante pode se sentir validadoe motivado toda vez que falar uma besteira, afinal, a ignorância é uma versão simplificada da realidade e os efeitos disso podem ser observados em movimentos destrutivos cada vez maiores, como os anti-ciência, terraplanistas, anti-vacina. Com isso, líderes políticos se sentem mais confortáveis em falar o que quiserem, pois sempre terão aqueles que irão a validar suas opiniões e com a internet, isso ficou ainda mais fácil, portanto, é possível que estes movimentos e certos governos que existemsão produtos diretos do superestímulo – ele cega, tira a necessidade de pensar.
Imagina aonde Hitler chegaria se houvesse internet?
Vivemos uma vida superestimulada. É fácil perder horas e horas com besteiras na internet ou se sentir exausta(o) diante de notícias cada vez piores, além disso, é mais fácil ainda sentir culpa por deixar-se “desligar”o cérebro e ser hipnotizada(o) pelos estímulos artificiais. Todavia, é impossível se esquivar ou fugir dos superestímulos, já que nos encontramos cercados por eles; este fenômeno nunca foi tão presente como na pandemia atual de Covid-19, estando em isolamento social as relações com o outro, o poder observar o natural e o real se tornaram menos frequentes e mais distantes o que, por sua vez, nos põe em muito contato com a internet, que apesar de ser um foco para superestímulos, é a ponte que nos conecta nesses tempos. Portanto,o problema como sempre está no excesso.
Levar uma vida sem superestímulos, demandaria abdicar-se de inúmeras coisas. Logo, é importante saber que há algo por trás disso, um significado na biologia e na evolução e é importante sabermos que não estamos tão longe dos dinossauros, por exemplo. Por outro lado, temos uma vantagem enorme sobre os animais: nosso cérebro possui um córtex pré-frontal desenvolvido, o que nos capacita ter autocontrole e, por mais lento que seja, evoluirmos juntamente aos superestímulos que nos são apresentados diariamente. Por fim, atividades como exercícios, estudar, aprender algo novo são estímulos com efeitos positivos sobre nós; ser gentil consigo é uma forma de descansarmos e mantermos o equilíbrio entre o excesso e o necessário em prol de uma saúde mental almejada.
Autor: Thiago Luan
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